Imagine um jovem de cabelos compridos, calça santropê e boca de sino, com uma espessa barba e de chinelos. Seus amigos, todos facilmente identificáveis pelo mesmo estilo, têm como principal assunto debater questões políticas. Eles lêem os mesmos livros, ouvem as mesmas músicas e tinham como lema desafiar a autoridade. Coloque este personagem em um banco, onde trabalhava como uma espécie de office-boy.
Agora olhe para os lados. Certamente, você encontra algum profissional utilizando fones de ouvido, com uma aparência até meio desleixada (provavelmente com All Star), com algum tipo de tatuagem ou piercing. Este colega provavelmente entende muito de tecnologia e consegue pensar e fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Se você não viu nenhuma semelhança entre estes dois perfis, é hora de prestar mais atenção. Para Sidney Bohrer de Aguiar, diretor da SBA Associados e um exemplo do primeiro perfil desta matéria, os profissionais da geração Y deixarão um legado nas empresas tão importante quanto os hippies. “Na época em que os hippies começaram a aparecer, alguns conceitos que eram tidos como absurdos se tornaram realidade graças à demanda criada pelos profissionais. Quer um exemplo disso? Os gerentes de banco”, explica Sidney.
O consultor compara o perfil destes profissionais naquele tempo com os atuais gerentes. “Antigamente, os gerentes de banco eram pessoas tidas como sérias, geralmente mais velhas. Tinham uma sala especial, longe de todo o resto, com móveis clássicos e antigos. Tinham um status diferente”, relembra. “Quem são os gerentes de banco hoje? Profissionais tão ou mais capacitados do que aqueles, porém mais novos, com uma visão mais dinâmica e infinitamente mais acessíveis. A antiga – e temida! – sala foi substituída por um ambiente que fica dentro do espaço do banco e mantém o mesmo ar de modernidade do que os outros locais”, completa.
Apesar de similares se considerado o contexto corporativo, as gerações hippie e Y têm um grande diferencial que faz com que a segunda tenha características mais difíceis de serem captadas pelas empresas: não são tão caricatas. “Enquanto os hippies eram facilmente identificáveis pelas roupas, pelos papos e pelos valores, a geração Y não é homogênea. O traço mais comum de sua personalidade é o gosto e o interesse pela tecnologia”, explica Sidney.
GERAÇÃO FONES DE OUVIDO
Quem é, afinal, esta tal de geração Y? “É exatamente esta a pergunta que muitas empresas ainda não se fizeram ou, se fizeram, não conseguiram responder. A sociedade não percebe as mudanças que vive e são estas pessoas o reflexo delas”, explica Sidney.
O Noticenter pediu para que o consultor nos listasse as principais características destes novos hippies. Veja os conceitos:
• Individualismo
Diferentemente do sentimento de união e de homogeneidade gerado pelo momento histórico da Guerra Fria para os hippies, a geração Y é cada vez mais individualista. E isto se reflete em tudo: cada vez mais eles moram sozinhos, não se vestem para agradar ninguém e vivem através da tecnologia, ao invés da constante interação social que se via naquela época.
• Intensidade
Os profissionais desta geração são ávidos por resultados. É a geração do imediatismo. Esta intensidade acaba se tornando agressividade na busca por resultados mais altos, na visão de mercado e na necessidade de um respaldo da empresa para suas aspirações e planos.
• Ambiente de conhecimento
Assim como uma das maiores tendências do consumidor moderno é a necessidade da experiência para a compra, uma característica do profissional Y é a necessidade de experiência, de conhecimento, de novidade para manter um alto índice de produtividade.
• Tecnologia
Tecnológicos por natureza, os profissionais da geração Y têm uma necessidade muito grande em estar por dentro das novidades no setor. Eles cresceram dentro de um cenário de evoluções constantes e muito rápidas, que conferiram aos integrantes desta geração a característica determinante de conseguir fazer coisas de forma muito rápida e mais de uma atividade simultânea.
CICLOS CADA VEZ MAIS CURTOS
Dentro do contexto empresarial, Sidney comenta que a geração Y está promovendo uma revolução silenciosa. “Eles vão fazer com que as empresas acordem para ciclos de produtividade, qualidade e de valor cada vez mais curtos”, destaca.
O consultor compara a situação com a duração do gosto musical antigamente com o atual. “Se perguntarmos aos mais experientes, dirão que ouviram por muito tempo apenas um tipo de música. Era a moda, a referência. Um destes casos foi o tango, ou o bolero, que foram unânimes. Hoje em dia, qual é o estilo de música do nosso tempo?”, pergunta Sidney, que responde que os gostos são muitos e os modismos passam rápido.
Um dos principais fatores de insatisfação desta nova geração no ambiente corporativo é o descompasso entre a rapidez do avanço tecnológico e da tomada de decisões nas empresas. “Eles vão exigir uma gestão cada vez mais transparente, um sistema que chamamos de linha reta (que liga as pessoas diretamente a um gestor, sem uma hierarquia que dificulte o acesso dele a alguém que possa intervir diretamente nas situações)”, explica Sidney.
Um lembrete importante é que a geração Y e toda a sua necessidade de mudanças, de evoluções de alterações e respostas rápidas também fazem parte de um novo cliente. “Não é apenas o público interno que muda. O consumidor acompanha este ritmo, e precisa ser pensado também”.
A SBA ASSOCIADOS ADVERTE: CUIDADO PARA NÃO PERDER TALENTOS
“As empresas que ainda não perceberam a geração Y já estão atrasadas. As empresas que perceberam, mas estão debatendo ações para assimilar estas mudanças, também estão”, diz Sidney. “Apenas estão preparadas aquelas que absorveram naturalmente algumas ações para este público e, hoje, estão adaptadas”.
Entre os motivos de rotatividade da geração Y destacam-se as faltas de repostas, de experiências e de conhecimento. “Os novos profissionais querem aprender. Estão mais sujeitos a mudanças, exatamente pela rapidez com que assimilam novas informações. Para que a sua empresa não perca talentos é preciso investir, mais do que nunca, nos profissionais”, aconselha Sidney. “Acredite no potencial deles, dê chances para que mostrem resultados. Se é imprescindível para eles ter essa valorização rápida do trabalho prestado, as empresas só tendem a ganhar”.
Para ele, são palavras-chave deste novo profissional: home-office, flexibilidade de horários, redes sociais e, com destaque, atualizações tecnológicas constantes em estrutura e processos.
UM CAUSO: DE QUATRO MINUTOS PARA UM
Dentro da SBA Associados, na metodologia de Coaching Ativo desenvolvida pela empresa, há uma regra: deixar para trás os cases de sucesso e abordar como exemplos “causos” do dia-a-dia do mercado. Para exemplificar as mudanças corporativas da geração Y, Sidney usa o “causo” que foi contado pelo presidente de uma grande empresa catarinense de fórmulas alimentícias em um recente encontro de executivos.
“Ele contou que queria montar o vídeo institucional da empresa e pediu que o responsável pelo marketing, que faz parte da geração Y, montasse um roteiro para um vídeo de quatro minutos. Numa reunião direta entre o presidente da empresa e o profissional, ele disse que o vídeo não poderia ser de quatro minutos, mas apenas de um. Depois de uma longa discussão, definiu-se que o vídeo seria de um minuto e cinco segundos”, lembra Sidney. “O presidente da empresa ainda brincou que sua vitória são estes cinco segundos. Mas que o vídeo ficou excelente e que o trabalho e os argumentos do profissional de marketing foram respeitados e valorizados”, finaliza ele.
E AFINAL, QUAL É O LEGADO?
Se os hippies deixaram as empresas mais flexíveis quanto a aparências, horários e posturas profissionais, o que será que a geração Y deixará de legado para o mundo corporativo? “Mais competitividade, respostas mais rápidas aos clientes e aos funcionários e, cada vez mais, foco na produtividade e no resultado”, finaliza Sidney.